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Uma das maiores buscas do ser humano é a do sentido: por que faço o que faço?
Este é um dos temas de palestra que desenvolvi há muito tempo, resultado até da minha busca pessoal por sentido, no trabalho e na vida. Recomendo esta palestra para públicos que estejam precisando desta reflexão, especialmente os mais maduros, para os quais o questionamento do sentido se apresenta com mais frequência. Quanto aos jovens, quanto mais cedo se conectarem com a importância de haver sentido no fazer, no ser, no falar, no relacionar, mais harmonia, paz e equilíbrio experimentarão em suas vidas.
Nietzsche, em uma de suas frases mais famosas disse: “Quem tem um porque, aguenta quase qualquer como.” O conteúdo desta frase, foi vivenciado por Viktor Frankl, um médico psiquiatra austríaco, que ficou preso no campo de concentração em Auschwitsz. Viktor, observando que alguns dos presos definhavam rapidamente e morriam e outros não, e notando que não havia uma correlação estrita com a saúde ou vigor físico, passou a pesquisar os motivos pelos quais as pessoas resistiam a tudo, ao frio, a fome, aos maus tratos, a falta de perspectivas e continuavam, em pele e osso, vivas. Sua conclusão foi a de que estas pessoas tinham um sentido para continuarem a suportar toda sorte de crueldades. Rever a esposa, o marido, os filhos, os pais ou voltar para casa, eram motivos suficientemente fortes para gerar dentro da pessoa uma força para mantê-la viva por mais um dia. Esta foto foi tirada por mim em dezembro de 2016 em Auschwitz, quando fiz um viagem com meus filhos e este foi um dos lugares que eu sempre quis conhecer, por toda a história envolvida e para ver o que o ser humano é capaz de fazer, para o bem e para o mal. Na foto, minha filha Letícia. O pensamento que tive ao tirar esta foto nunca esquecerei. Pensei nos milhares de pais e mães que estiveram ali com seus filhos e nunca mais os viram, e nós iríamos embora em breve, aquilo para nós era apenas um passeio, triste, doido, mas um passeio.
Saindo de um caso tão drástico e dramático para a vida organizacional, para muitos o emprego se assemelha a um campo de concentração. Em algumas empresas até muito elegantes, que tem escritórios em prédios de primeiro mundo, alguns colaboradores chamam a voltinha no jardim após o almoço de “passeio do prisioneiro”. Não, não pensem que esteja me referindo a uma empresa em particular, conheço pelo menos dez que onde utilizam esta fala. Isto porque o sentimento é de prisão, de estar ali por uma obrigação, não por vontade própria. Em minhas palestras costumo trabalhar este ponto do ser obrigado a fazer algo, trazendo a reflexão de que na verdade não somos obrigados a nada, sempre fazemos escolhas.
Pesquisas indicam que para cerca de 60 a 80% das pessoas, seus trabalhos não fazem sentido algum, isto é, estão lá exclusivamente pela grana. Em tempos em que tanto se fala em significado do trabalho, vocação e felicidade, é triste pensar no volume de zumbis infelizes que perambulam por nossas fábricas, lojas e escritórios.
Encontrar o sentido para fazer algo é de fundamental importância para continuar na jornada e não jogar a toalha. Quando se ama o que se faz a conexão com o sentido é direta.
“Quando faço este trabalho sou mais feliz e sinto que beneficio não só a mim, mas a outras pessoas.”
Este sentimento alimenta a alma e inspira a melhorar a cada dia. Entretanto, o que fazer quando não existe prazer algum na atividade que se desempenha? A resposta pode ser simples mas não simplista. A pergunta é: “onde você gostaria de estar agora, fazendo o que?” Grande parte das respostas vão para uma praia, água de coco, camarão ou uma montanha bem linda. As pessoas relacionam viagens a prazer e, realmente existe muito prazer envolvido nelas, mas para quem só sentiu prazer nestas ocasiões, por nunca tê-lo saboreado no trabalho, é quase impossível associar outra atividade laboral que possa proporcionar prazer. Ao longo da vida as pessoas vão se desfazendo dos sonhos, chamando-os de ilusão, quando parecem impossíveis de alcançar. Por vezes, a realidade mostra-se realmente muito árida e não fornece substrato para que novos sonhos possam florescer.
Opa, agora que a coisa no trabalho está ficando feia, vamos voltar a Auschwitz de Viktor Frankl. Assim como a perspectiva de uma nova vida após o campo de concentração alimentava a vontade prosseguir, as pessoas em seus empregos sem sentido também precisam projetar onde gostariam de trabalhar, com o que, e com quais resultados. A metodologia japonesa do Ikigai fornece uma rica ferramenta para ajudar a descobrir o que faz sentido na vida, o que gosto de fazer, o que sou bom em fazer, o que me pagariam para fazer, o que serve a outras pessoa e por ai vai. Esta análise permite voltar a fazer planos e, o trabalho atual passa a ser o ambiente onde posso treinar ou desenvolver competências para a nova fase que queremos construir. No mínimo, é de onde vem os recursos financeiros que permitem que cuide da família e possa fazer planos de futuro com mais segurança. Só por isto, já encontramos um sentido.
“Se algo precisa ser feito, que seja bem feito. “
Esta frase que ouvi de meus pais durante minha infância ajudou a moldar minha forma de ser e estar no mundo. Não gostamos de todas as atividades do dia a dia. Lavar uma pia cheia de louça, lavar e passar roupa, são atividades diárias que poucas pessoas se encantam ao fazer, mas precisam e merecem ser bem feitas. Existe um sentido para que sejam bem feitas.
Pense mais nos porquês e tire o foco do negativo que tudo fica mais leve.
Projete o futuro que deseja viver e vá nesta direção dia a dia.
Grande abraço e até breve.
Luciano Lannes