Stephen Hawking tornou-se uma personalidade famosa nas últimas décadas. Com certeza que sua vida acadêmica foi de uma riqueza incrível e sua produção teórica exuberante. A alguns intriga o fato dele nunca ter ganho um Prêmio Nobel, mas a explicação é bastante simples. Para um Nobel, é preciso haver a comprovação científica da teoria através de experimentos, o que no caso de seu grande postulado, a Radiação Hawking, ainda não ocorreu. Veja-se o caso de Einsten, que em 1920 propôs a teoria das ondas gravitacionais e só foi comprovada em 2016.
Stephen também popularizou a astrofísica, a teoria quântica, a relatividade e sobretudo a pesquisa sobre os buracos negros. Tantas outras pessoas geniais já viveram e seus nomes nunca foram pronunciados fora de seus ambientes familiares e acadêmicos. O que sem dúvida foi um impulsionador na popularidade de Stephen foi a forma como o mundo passou a vê-lo e tratá-lo após seu diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica aos 21 anos. Isto tira seu brilho? De forma alguma, e é sobre isto que quero escrever sobre ele.
O legado de Stephen
Para mim, simples mortal que vive uma vida “normal” com os desafios do dia a dia, de trabalho, família, relações, sonhos, desafios, tropeços, medos e realizações, o maior legado de Stephen não está na área da astrofísica, mas sobre como ele encarou os desafios que a vida lhe apresentou. A palestra motivacional de uma pessoa que teve suas pernas amputadas ganha uma dimensão muito interessante: coloca o público frente à realidade, como ele lidou com ela. No caso de um palestrante que, sobre suas próprias pernas, fala de superação, a reação das pessoas poderia ser: “fácil falar, vem aqui no meu lugar fazer”.
No caso de Stephen, mesmo sem a intenção, ele anula este questionamento, pois as mentes daqueles que o assistem não param de perguntar: “como ele consegue?”. Como que uma pessoa que, com tantas limitações, incapaz de qualquer movimento, inclusive privada da fala, necessitando de um computador para se comunicar, consegue produzir tanto, fazer tanto? Em nosso dia a dia de pessoas “normais”, estes questionamentos nos convidam a sair da zona de conforto, de ousar mais, de fazer mais, de parar de tanto mimimi. A opção de Stephen pela vida é muito nítida, inclusive presente em seu humor sempre afiado.
Stephen nos mostrou que os limites não estão fora de nós, mas dentro. Que o mundo não é o que ele é, mas o que vemos dele, e que podemos escolher como reagir frente às adversidades. Simples assim? De forma alguma. Mas profundamente inspirador e nos mostra que precisamos encontrar o caminho, cada um o seu, à sua maneira.
O legado de Stephen é manter a criança interior viva. Assim, decidi colocar uma foto sua quando criança. Acho que um pesquisador como ele e amante da vida não teria avançado tanto sem o apoio e uma íntima relação com esta criança que está sempre a perguntar “como” e “por quê”. Para aqueles que não assistiram o filme que conta um pouco de sua vida, recomendo – “A teoria de tudo”. Assistimos há uns anos, duas ou três vezes. Cada vez que se assiste pega-se um detalhe a mais.
Stephen se foi. Virou santo agora? Não. Mantém sua humanidade e seu legado. Em sua vida, nos lembrando que podemos explorar em muito o potencial que temos dentro de nós. Em sua morte, que tudo passa, que tudo acaba, assim, vamos encontrar formas de superar aqueles medos internos que nos freiam, que nos limitam. Afinal, vai passar.
Gratidão, Stephen.