O Brasil está confuso. Dividido e perplexo, cansado de escândalos, de fraudes, de roubos, de assaltos, de falta de emprego e de promessas vazias. Parte dos brasileiros radicalizam. Querem força para combater tudo o que precisa ser consertado. Este texto não será sobre os méritos de um ou outro candidato nesta corrida presidencial, mas sobre o lado negro da nossa cultura que veio a tona nestas eleições.
Tido como um povo calmo, pacífico, simpático e brincalhão, parece que havia algo represado nos porões das emoções, das memórias de uma história curta, mas tão cheia de dores e sofrimentos. E eis que surge um brasileiro racista, machista, misógeno e homofóbico. Onde isto estava escondido? Somos um povo fruto de muitas misturas, não há uma etnia absolutamente dominante, mas negros e pardos (mistura de negros com outras etnias) somam 50% da população. 85% dos brasileiros declaram-se não racistas, mas 91% diz que existe racismo no Brasil. Os números não batem.
Nosso preconceito ficou preso na garganta, herança dos povos que nos colonizaram.
Quando não faz na entrada, faz na saída
Você fez um serviço de preto
Você viu aquele viadinho?
Amanhã é dia de branco
Nasceu com um pé na cozinha
Não sou preconceituoso, tenho até um amigo negro
Só podia ser loira
Pode ser gay, mas não precisa beijar em público
Essas e tantas outras expressões habitam nossas bocas e mentes. Este código foi inserido nas mentes quando ainda crianças e quando reforçados transformaram-se em crenças arraigadas. Quando desfeitas por exemplos positivos de pais, mestres e outros que fossem referências, desaparecem.
Na época da faculdade, quando fazíamos festas, batucávamos nas mesas de bar e ensaiávamos passos de um samba. Um querido amigo , negro, (explicito o negro para que entendam a colocação), dizia com um grande sorriso “tem branco na roda”, referindo-se a rigidez e falta de gingado do branco. Quando tratamos as diferenças como naturais, as brincadeiras são saudáveis e divertidas. Mario Sérgio Cortella conta que seu pai dizia que a brincadeira é divertida quando ambos riem.
Faz parte de nossa cultura fazer brincadeiras que denigrem, humilham e zombam. Nos acostumamos a rir do outro e não com ele. O menino da escola que usava óculos era o “quatro olhos”. O altão da turma era “pau de virar tripa”. O mais baixinho era o “pintor de rodapé”. O negro era o “alemão” e por ai vai. Todos sabem que um apelido pega quando nos incomodamos com ele. A criança, em determinada idade, por ainda não ter seu repertório ético formado, e o “outro” ainda ser meio estranho para ele, pode ser muito cruel em suas brincadeiras. Cabe aos adultos mostrar que determinados comportamentos machucam, causam feridas internas que podem nunca se curar. Quando adultos reforçam tais comportamentos disfuncionais, formamos adultos agressivos, violentos e com o sistema empático atrofiado.
Neste momento em nosso país, temos um grupo de pessoas com determinadas crenças arraigadas que vão na contramão da inclusão, do acolhimento e do diálogo, e elas estão em posição de poder e são influenciadoras do comportamento de tantas outras que não encontravam espaço para fazer fluir sua violência interna. Neste cenário, caem as máscaras e o lado sombrio (procurei evitar usar “lado negro” mas não adiantou nada) vem à tona. Violência nas ruas, ameaças a gays, negros, índios e outras minorias (não necessariamente numéricas mas econômicas), ameaça a meninas nas ruas de dominação sexual e tantas outras formas de manifestar o que estava represado há tempos.
Marshall Rosenberg, o sistematizador da CNV (Comunicação Não Violenta) alerta que toda violência é uma expressão dramática de uma necessidade humana básica não atendida. Diz ainda que o ser humano, sem nenhuma disfunção cerebral ou psicológica, não sente prazer em machucar, ferir ou ofender outro ser humano. Assim, a pergunta que fica é:
“Quais são as necessidade básicas que estão gritando na forma de violência em nossa sociedade?”
Vivemos um tempo em que são dadas as condições para que muitos coloquem as máscaras de bonzinhos de lado e manifestem suas crenças com liberdade e proteção. O discurso de natal de que só o amor constrói, muitas vezes não resiste a dor de ter um filho, um marido, uma mãe, uma esposa assassinados por causa de um tênis ou um celular.
“Bandido bom é bandido morto”
Frase familiar a todo brasileiro que se sente impotente frente à bandidos, assaltantes comuns, traficantes, milicianos e policiais corruptos.
Quando aquele que está no poder valida a violência como solução simplista para problemas complexos, relega determinados grupos a uma posição inferior e busca eliminar outros que não aceita, a sociedade irá experienciar as consequências para reconectar com sua humanidade, e buscar no que nos une, princípios, sonhos que nos são comuns, novas estratégias de construção e difusão de valores que sejam cada vez mais humanos e universais.
Boa jornada para todos nós.
Bom dia Luciano, tem momentos na vida que são, ” preciso frases impactantes para uma população menos esclarecida possa entender ” ninguém vai sair matando pessoas, agora a lei e para ser comprida e se NESSESARIO tem ser com rigor, só o bandido se entegrar que vai responder pelos crimes que a ele se expôs, no mais fica meu abraço.
Olá Eduardo,
grato pela sua interação. Será mesmo necessário que a aplicação da lei seja para todos. O que destaquei no texto foi um lado “sombrio” do brasileiro que veio a tona neste momento de embate de extremos. Normal, como vem acontecendo em outras partes do mundo. Um abraço.