Quando fazemos esta pergunta parece que a incerteza é algo esporádico, que ocorre ocasionalmente em nossas vidas. Fomos criados e educados para criar um ambiente de segurança, sobre o qual exercemos grande controle.
Interessante notar que o ser humano tem um sistema de crenças que não obedece a lógica, mas sim, ele aceita um determinado fato ou ideia, o valida com evidências que lhe convém, mas, principalmente sedimenta a crença frente a validação de uma grande autoridade externa que ele respeita. As primeiras autoridades que nos ajudaram a validar crenças em nossas mentes foram nossos pais. Nossas crenças religiosas, a forma de ver e interagir com outros povos, etnias, raças, cores, a forma como lidamos com o dinheiro, a fama, a riqueza, a pobreza, o mais a esquerda, o mais a direita, o do centro, tudo é codificado em nós até a os cinco ou sete anos. A Psicologia já tem isto muito bem mapeado e muitas são as metodologias para desmontar crenças que nossa criança interior criou com os olhos e repertório infantis, e que guiam nosso comportamento até os dias de hoje.
Mas aqui, quero falar mais sobre a questão da incerteza. As crenças nos ajudam a reduzir drasticamente o número de incertezas, e com isto nos proporcionar mais segurança para vivermos uma boa vida. Quem começa a estudar Filosofia ou outras disciplinas que tem a Filosofia como base, o questionamento é um ponto fundamental para ampliarmos a visão. Este questionar inclui, e esta é a parte mais crítica, as crenças mais arraigadas, como a existência de Deus, vida após a morte, sentido da vida, propósito, se o ser humano é bom ou mau e por ai vai a lista. Note que a finalidade deste questionamento não tem, em absoluto, um caráter destrutivo em si, mas o de ampliar o repertório de possibilidades.
É preciso muito cuidado ao falar, principalmente, de questionamentos basilares como a figura de Deus, pois são questões muito críticas e de sustentação de muitas outras crenças. Por vezes, algumas pessoas tem a sensação de que querem lhe roubar algo muito precioso, que rege sua vida, e realmente esta sensação é muito legítima. Nestes casos, quando o alarme do sistema de crenças de uma pessoa soa, é comum uma reação verbal agressiva. Não por acaso, os maiores conflitos no mundo são por defesa de crenças basilares como a religião, vide as cruzadas, evangelização de povos ditos selvagens, e as crenças em relação a forma de gerir uma sociedade, se por princípios de esquerda ou direita.
O convite a este e outros questionamentos deve ser feito a pessoas que aceitam fazê-lo, dentro de um ambiente controlado, com a legítima intenção de criar ou reformar o sistema de crenças para que ele possa ser mais autoral, isto é, analisar criticamente o pacote recebido quando criança, e fazer uma depuração. Esta, passa por um crivo de sentido muto mais profundo do que a simples aceitação. Não se trata apenas de parâmetros lógicos e racionais, mas permitir-se sentir no coração o que faz sentido para você. A grande maioria de pessoas que se permitiram, em algum momento da vida, questionar em profundidade suas crenças religiosas e sobre a figura de Deus, não se tornaram ateias. Pelo contrário, construíram crenças agora muito mais confortáveis, acalentadoras e que ecoam na alma. Não é muto técnico ou racional falar em “ecoar na alma”, mas você leitor(a), como um legítimo ser humano, sabe exatamente sobre o que estou falando.
Todos temos exemplos interessantes para partilhar, e coloco aqui o de minha mãe. Ela foi criada em uma família muito católica, indo na missa, etc e tal. Aos nove anos foi estudar em um internato de freiras em Bragança Paulista. Saiu de lá aos dezoito, formada professora. Ela contava que, desde criança, não acreditava em várias coisas do catolicismo que eram crenças de seus pais e eram reforçadas no internato. Muitas delas não se encaixavam dentro dela. Não ecoava no coração. Muita coisa mudou quando ela conheceu minha tia, irmã de meu pai, espírita kardecista. Minha mãe contava como havia ficado encantada com o que minha tia contava sobre vida após a morte, o Nosso Lar, a morada dos espíritos e a reencarnação. Ela foi reformando seu sistema de crenças, não eliminando o catolicismo, mas agregando, compondo. Ela nunca deixou de frequentar a igreja, acender uma vela, fazer uma prece, mas o fazia de uma forma muito mais ampla, consciente, e com muito mais significado do que quando criança.
Mas afinal, como lidar com as incertezas? Ora, aceitando que elas são as coisas mais certas da vida. Louco não é? Quando abrimos mão de controlar o que não podemos, e na ponta do lápis nos resta muito pouco, conseguimos colocar todo o nosso foco e ação sobre aquilo que podemos efetivamente fazer. Temos um estoque limitado de energia e precisamos utilizá-lo com muita sabedoria, ainda mais em tempos tão corridos como atualmente. Somos bombardeados diariamente com tantas informações sobre as quais não temos absolutamente nenhum poder de ação ou transformação. A fome no mundo, a queimada na amazônia, os escravos na China, os terremotos na Islândia, a política do Trump, o humor do mercado financeiro, o armamento ou desarmamento, o trafico de drogas, etc, etc, etc.
Sobre o que você tem controle?
Onde você pode colocar sua atenção, energia e ação para causar um resultado positivo tanto para você como para todos os envolvidos?
Pense nisto, esteja presente e foco na ação.
Excelente artigo do Luciano Lannes. Não temos controle sobre os acontecimentos, estes acontecem um atrás do outro numa sequencia meteórica! Mas temos o poder de termos atitudes assertivas – ou não – frente aos acontecimentos!
No texto o exemplo de sua mãe foi muito marcante! Gratidão!