Tudo parece bem, onde deveria estar, mas por que sinto este incômodo no peito?
Muito provavelmente você já sentiu isto em algum momento da vida, ou quem sabe, esteja sentindo agora. Começamos a notar, a tomar consciência de que a vida que estamos vivendo, não foi efetivamente aquela que desejamos, mas aquela que a família ou a sociedade planejou para nós. Desde pequenos, recebemos influência de nossos pais, familiares, com a melhor das intenções, mas que muitas vezes vão na contramão daquilo que nosso coração efetivamente quer.
Se cuidamos do gatinho vamos ser médicos, se construímos uma casinha com blocos, engenheiro, se argumentamos bem, advogado. Mas o que realmente ecoa dentro de nós e quando começamos a perceber isto?
Temos que escolher a profissão entre 16 e 18 anos, pois é quando, normalmente, se chega a faculdade. Muitos já escreveram sobre o absurdo desta escolha, sem qualquer parâmetro palpável para tal. Alguns acertam, na escolha, outros não. A pergunta é: “Esta primeira escolha foi completamente às cegas?”.
Creio que não, e é aqui que começamos nossa conversa.
Existem vários modelos para pensar em propósito de vida e missão. Os filósofos gregos já começaram este questionamento há muito tempo. Nascemos com um “chamado” ou o descobrimos no decorrer da vida? Existem temas que realmente nos encantam ou é mera coincidência. Olhando ao redor vemos atores na tv, teatro e cinema, médicos, padeiros, eletricistas, encanadores, advogados, e por ai vai. Algumas destas pessoas levam vidas felizes com suas profissões, outras não. Vamos observar aquelas felizes e procurar descobrir o que elas tem em comum.
Não, não somos os primeiros a fazer esta análise, aliás, bem lógica. Todos os que passaram por este raciocínio, notaram algumas coisas em comum àqueles que gostavam do que faziam. Havia alegria, prazer e satisfação. O que faz alguém amar desvendar fórmulas matemáticas enquanto outros não as suportam? Alguns se encantam em catalogar cantos de pássaros enquanto outros projetam motores elétricos. Ainda não descobrimos quais diferenças cerebrais levam pessoas a gostarem de coisas diferentes. Seguimos na hipótese que tenha algo a ver com nossa alma, mas esta talvez seja uma outra história.
O importante aqui é notarmos os sinais que temos para “sacar” se estamos no lugar “certo” ou não. Primeiro precisamos definir “lugar certo”. Depende aos olhos de quem, é claro. É muito comum quando um jovem que começa a trabalhar em uma grande empresa, receber a aprovação dos pais. É como se ele já estivesse no vale certo, agora é só subir a montanha e receber o pote de ouro. E se, ao começar a subir aquela montanha o jovem começa a sentir tristeza?
Opa…. este é um magnífico sinal.
Então, chegamos a dois sinais muito simples e interessantes: alegria e tristeza. Note que tanto um como outro, nada tem a ver com a lógica, ou o que possamos chamar de bom senso. Tem a ver com algo estranho, indeterminado, ilógico, que arde no peito. A sensação de estarmos no lugar certo, onde nascemos para estar, ou ao contrário, um aperto grande no peito que nos pede para sairmos correndo dali. Mas e quando este sentimento contraria a visão de todas as outras pessoas importantes para nós? É ai que se instala o dilema.
Quando vamos nos aconselhar, procuramos aqueles que mais amamos, aqueles em quem mais confiamos. Quando estas pessoas tem modelos mentais muito alinhados com os padrões daquela sociedade, que dizem que o caminho que está seguindo é o correto, e que este desconforto é passageiro, que é fruto de ilusões que rondam sua mente, ai você fica desamparado. Talvez até passe a achar que tem algo errado com você.
Muitos casos de depressão começam aqui. Quando achamos que não nos enquadramos, que não nos adequamos, e que nada faz muito sentido. Tem algo que quero mas não sei bem o que é, e o que eu deveria querer, me causa tristeza. Esta falta de sentido, esta desconexão com a alegria, muitas vezes faz a mente perder o foco, e achar que aquela alegria que você busca, realmente não existe. Um dos sinais da depressão é deixar de acreditar que exista uma saída em direção a felicidade, é ai que tudo fica cinzento, que nada tem graça. Eu já estive lá, e foi assim para mim. É neste ponto que é preciso parar e reconectar com o básico. Lembrando que este é apenas um dos caminhos que podem desencadear um processo depressivo, longe de ser o principal ou o único.
Muito bem, tudo isto que penso e acredito é fruto de minha vivência, minha experiência e estudo, e muito longe de ser uma “verdade”.
Acredito que precisamos prestar mais atenção no que nos alegra e no que nos entristece. Acho que estes sejam os dois elementos mais potentes para nos guiar pelos caminhos de uma vida feliz, não aos olhos dos outros, mas para nós mesmos. A vida é feita de escolhas e esta escolha pode ser feita com o “cabeção”, com o “coração” ou com os dois em harmonia.
Para finalizar, uma pergunta que deve estar na mente de muitos seja: “como fazer este alinhamento?”
A forma mais simples, fácil e direta é através da meditação. A meditação de contemplar os pensamentos e ir acalmando a mente, um pouco a cada dia. Cuidado com as meditações guiadas, pois elas estão levando sua mente para um determinado lado. Comece um processo de meditação pura. Meditar é observar sua própria mente em funcionamento. Apenas observar. Não julgar, não pensar sobre, não tentar conter o pensamento ou mudar para outro. Apenas observar. Este é o caminho para o autoconhecimento.
Precisa de ajuda? Procure por grupos de meditação em sua região, ou vasculhe o Youtube em busca de mais informação.
Meditar em momentos em que sentimos o incômodo e a tristeza é especialmente útil. Lembre-se, não é sentar e ficar remoendo aqueles pensamentos, mas aprender a observá-los, apenas observá-los. Claro que no começo vamos mergulhar neles, mas sempre que fizer isto volte a posição de observador. Observe e veja para onde eles vão, a quais outros pensamentos estão ligados. Quais outros sentimentos aparecem, quais memórias emergem. Apenas observe. Este é o processo de nos conhecermos melhor. Observando.
Fica aqui este convite. De romper com a linha racional e conectar com o que ecoa dentro de você. Um dia de cada vez.
Vamos lá?