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O ser humano tem grande capacidade de fazer questionamentos. Esta é uma das características que nos distingue dos outros bichinhos. Pensar sobre nossos problemas, angústias, medos, sonhos, perspectivas, e projetarmos a vida que queremos viver.
Esta palestra traz sérias reflexões pois nos conduz a um lugar de protagonismo no fluxo da vida e não de passageiro ou observador. Pessoas com posturas vitimistas, não estão assumindo sua responsabilidade pelas decisões ou pelas omissões ao longo de seu caminhar. Não optar ou deixar que outros escolham seu caminho, por medo das consequências da própria escolha, não alivia o sofrimento de um sentimento contínuo de tristeza e falta de realização.
Falar em “vida que queremos viver”, é um pouco estranho pois fomos ao mesmo tempo que condicionados a pensar em uma estrutura já pré montada, de ciclos escolares que precisamos ir percorrendo, para no final, entrarmos no mercado de trabalho. Fomos também condicionados a nos prepararmos para sermos aprovados para uma vaga de trabalho, que gostem de nós, que nos escolham. Pouco se fala, ainda hoje, no percurso inverso, qual seja, imaginar a vida que quero viver, e escolher a empresa onde quero trabalhar para que lá, minha alegria e felicidade sejam maximizadas. Compreender a vida como uma sucessão de ciclos e que vários destes ciclos ocorrerão em organizações diferentes, quando trabalhando para outros, ou ciclos diferentes de negócios, quando gerindo sua própria empresa.
Processos de seleção usualmente são jogos de cartas escondidas, onde o contratante só mostra o lado cor de rosa da empresa e o candidato é somente cheio de alegria, pique, qualidades e quer conquistar o mundo. Minha experiência em processos de seleção limita-se à contratação de pessoas para minhas empresas, consultoria e editora, à exceção de meu primeiro trabalho como consultor onde ajudei uma empresa a modificar sua cultura interna, e era fundamental a mudança de boa parte da equipe. Nestas ocasiões tive total liberdade para exercitar os conceitos nos quais acredito e fazer uma série de testes. Uma pergunta simples, sem tom de pegadinha, mas com a intenção de explorar motivações é: “por que você quer trabalhar aqui?” Esta pergunta tem um objeto de pesquisa muito específico; se a pessoa tem consciência do ela foi buscar naquele trabalho ou naquela empresa. Candidatos ensaiam respostas padrões do tipo; “quero contribuir para o desenvolvimento da empresa com minha experiência”, ou “quero um ambiente de aprendizado onde possa tanto exercitar meus saberes como me desenvolver continuamente”, ou ainda “quero crescer na organização e ser digno da confiança que depositam em mim.” Outras perguntas interessantes são: “por quanto tempo você pretende ficar aqui?” Esta pergunta tem um outro questionamento embutido; “você já vislumbrou seu próximo passo?” Não podemos, claro, cobrar de todas as pessoas um planejamento impecável de vida, até porque conheço muitas pessoas bem sucedidas que admitem abertamente que não fazem planejamento, mas mesmo estas tem uma clara noção de qual é a vida que vale a pena ser vivida. O que queremos ao fazer certos questionamentos em uma entrevista é se a pessoa tem consciência da escolha que está fazendo.
Deixar as coisas acontecerem para ver o próximo passo, pode passar pelo “deixa a vida me levar”, no sentido de que meu barco não tem leme nem velas e sou apenas um passageiro, ou pelo contato real com a experiência que dirá, através de minhas emoções, se estar ali me traz alegrias ou me entristece, o quanto destas emoções está relacionado com o ambiente e o quanto com o trabalho em si. Com base nestes sentimentos, virá a decisão de ali permanecer por mais tempo, ou arrumar as malas e partir.
Podemos viver uma quase infinita possibilidades de vidas, considerando que cada aspecto que se altera muda a experiência. Fazemos uma série de escolhas na vida, pelas quais precisamos nos responsabilizar, reconhecer que fizemos uma opção e que, na maior parte dos casos podemos romper com esta escolha e partir para outra. Vejamos alguns exemplos:
- a pessoa para dividir a experiência da vida
- o trabalho
- o local de moradia (pais, estado, cidade, bairro, casa)
- ter filhos ou não
- as pessoas mais próximas
- passeios
- vida cultural, etc…
Um dos pontos cruciais na consciência de que escolhemos a vida que vivemos, mas que não significa que ela seja uma vida que vale a pena ser vivida, é que abrimos mão de outras possibilidades quando fazemos uma escolha.
Uma escolha consciente torna-se fundamental a partir do momento que nos entendemos como seres cocriadores de nossa realidade.
Grande abraço,
Luciano Lannes