Um pensamento comum tanto nas organizações como na sociedade é que a Cooperação depende de uma boa vontade por parte dos envolvidos. Para entendermos este pensamento precisamos considerar o que as pessoas entendem por “boa vontade”.
Nesta palestra mostro quais fatores ajudam ou impedem que o movimento do Cooperar aconteça. Quando despertamos nosso olhar para o outro, abrimos novas possibilidades para um relacionamento mais harmonioso e de troca.
Tendo como pano de fundo um ambiente onde a Cooperação não ocorre naturalmente e, portanto, estão pedindo “boa vontade”, é interessante notar que as pessoas não estão cooperando porque não houve uma mobilização interior nesta direção maior do que a resistência inerente. Vamos imaginar uma ação comum que faço todos os dias no trânsito: avisar motoristas que tenham luz de freio queimada. Faço isto há anos e praticamente todos os dias em que dirijo aviso ao menos 5 motoristas. Não se trata de metas numéricas, mas um compromisso interior de avisar todos que possa. Por que avisar sobre luz de freio? Pelo simples motivo de que o outro precisa de mim para saber que sua luz de freio está queimada. Praticamente ninguém verifica suas luzes antes de sair de casa e quando dirigimos não temos nenhum indicativo de as luzes estejam funcionando adequadamente por estarem fora de nosso campo de visão. Por que tão poucas pessoas avisam outras sobre isto? Conversando com minha esposa e com amigos temos várias hipóteses.
- pode ser invasivo alertar o outro sobre algo que não me consultou;
- tem medo de serem mal recebidas;
- não é de responsabilidade dela;
- ninguém faz por mim, por que fazer pelo outro?
- ema, ema, ema….
Este exemplo é bem pertinente pois traz um dos pontos fundamentais que sustenta a não Cooperação: a ilusão de que vivemos separados do outro, que não temos conexão. Em workshops e encontros onde a conexão humana é valorizada e praticada, como o FICOO 2018 que aconteceu em outubro, as pessoas são transportadas para uma outra dimensão. Constrói-se um ambiente onde é normal cumprimentar e abraçar demoradamente pessoas que nunca vimos e, nos encantamos com o sentimento maravilhoso que é de estar conectado. O movimento “Free-hugs” (abraços grátis) faz enorme sucesso no mundo todo e mostra como as pessoas estão carentes de contato, de conexão, de afeto.
Então, o movimento de Cooperar precisa da intenção da conexão para que aconteça. Quando vejo o outro, como um legítimo outro, igual a mim, a empatia entra em ação e quando me coloco no lugar do outro, sinto suas dores, seus problemas, suas angústias. Precisamos tomar certo cuidado para não sermos invasivos nesta quase ânsia de ajudar, de contribuir. Basta consultar o outro se ele precisa de ajuda, ou de uma conversa, e deixar sua porta aberta para quando a pessoa precisar.
Assim, vamos entender aqui “boa vontade” como um esforço que precisa ser empreendido para fazer algo que não tenho nenhuma vontade de fazer. Quando a conexão e a empatia dominam a parada, o movimento de ajudar, de contribuir, de estar presente é mais do que natural.
Simples assim.
Que tal levar o tema Cultura da Cooperação para sua organização e para sua vida?
Grande abraço
Luciano Lannes