COOPERAR POR EGOISMO? COMO ASSIM??????
Pode parecer completamente maluco e sem sentido dizer que alguém coopera com outros por egoismo, mas é o que acontece em mutas ocasiões, e esta cooperação pode acontecer de forma consciente ou não.
Vou colocar dois casos para ficar mais fácil nossa análise.
O primeiro é no esporte e, especificamente trago meu esporte de paixão que é o ciclismo. Nele, especialmente em provas longas como as que acontecem nas grandes voltas, França, Itália e Espanha, temos cerca de 20 equipes e um total de 180 ciclistas. Em cada etapa, que tem 200 km em média, é comum que um grupo de ciclistas empreenda uma fuga do pelotão principal. Esta fuga nunca é de uma única equipe, mas de vários ciclistas, normalmente um de cada equipe. Vamos imaginar que um grupo de 20 ciclistas faça esta fuga e sua missão é conseguir distância suficiente do pelotão, para que não sejam alcançados durante ou no final da prova, e assim, a vitória daquela etapa será disputada entre eles. Faz sentido, não é?
Durante toda a prova estes 20 ciclistas, mesmo sendo de equipes distintas e, portanto, concorrentes, se ajudarão para distanciar o máximo possível do pelotão. Serão horas de intensa cooperação, pois eles são apenas 20 e o pelotão tem mais de 150 ciclistas também alternando posições para minimizar a resistência do ar. Quando este pequeno grupo começa a se aproximar da chegada, ele tende a aumentar o ritmo para provocar uma quebra no próprio grupo, afim de separar aqueles melhor preparados do restante. Nos últimos um ou dois quilômetros, ai sim acaba a cooperação entre eles pois cada um que até ali chegou quer a vitória para si e sua equipe. Este é um caso típico onde vemos a cooperação servindo a objetivos individualistas pois só haverá um vencedor.
Outro caso e mais comum na sociedade e nas organizações, pode e deve ser utilizado para que as pessoas cooperem mais. Fazer com que as pessoas cooperem entre si pela simples razão de que, assim, elas, pessoalmente levam mais vantagem pessoal. Para compreendermos isto vamos a um breve resumo da relação entre cooperação e ética. Cooperar é operar juntos, trabalhar em conjunto, compartilhando ações, materiais, conhecimentos, tempo, para que o grupo alcance um objetivo que seja comum a todos, e que todos sejam beneficiados por ele. Pode-se pensar que cooperar é a coisa mais linda do mundo e que as pessoas que cooperam são maravilhosas, mas não é bem assim. Depende dos motivos pelos quais a pessoa esteja cooperando.
Como sabemos, Ética é um conjunto de valores que utilizamos para balizar nossas ações. O que dá cor e sentido à ética, é que ela prevê ações que levem em consideração o bem estar coletivo. Assim, quando uma pessoa toma uma decisão ética, ela levou em consideração o impacto que aquela ação terá sobre outras pessoas que serão ou podem ser afetadas pela ação. Quem toma decisões éticas? Pessoas com elevada maturidade pessoal. Ok , vamos lá, temos que definir maturidade pessoal para que tudo fique mais claro.
Maturidade pessoal envolve:
- Assumir responsabilidade pela própria vida
- Responsabilizar-se pelos seus atos
- Responsabilizar-se pelos resultados de seus atos
- Extrair aprendizado de suas experiências
- Rir dos próprios erros
- Procurar novas formas de alcançar suas metas
- Ter postura positiva frente a adversidades
- Ter alta resiliência
Assim, maturidade pessoal não tem uma ligação direta com idade, embora exista uma correlação muito forte. Maturidade tem mais a ver com as experiências que a pessoa teve e o quanto ela aprendeu a ampliar sua visão sobre si própria e o outro, e tornou-se mais responsável tanto por si como pelas suas ações nos ambientes onde atua. Maturidade pessoal tem tudo a ver com o imperativo categórico de Kant, mas este fica para outro dia.
Então, pessoas com elevada maturidade pessoal são naturalmente cooperativas. O oposto também é verdadeiro. Pessoas muito imaturas, são individualistas, não se responsabilizam pelas próprias ações, comportam-se normalmente como vítimas e assim, não cooperam por não entenderem um desperdício de energia por estão focadas nos próprios interesses.
Chegamos a um ponto muito interessante. Vamos cruzar tudo o que vimos até aqui para fazer com que pessoas imaturas passem a cooperar espontaneamente e ainda felizes.
Precisamos de uma última definição: Jogo.
Segundo os criadores da Teoria dos Jogos, e aqui destaco John von Neumann e John Nash (que teve sua vida contada no filme “Uma mente brilhante”), jogo é toda e qualquer interação intra ou interpessoal mediada por regras. Assim, sob esta perspectiva, tudo o que fazemos é um jogo pois envolve interações e regras. Então, quando pensamos em construir um jogo que seja cooperativo, o que irá caracterizá-lo como cooperativo serão exatamente as regras. Assim, quando temos personagens que participam de um jogo, e aqui vamos pensar os personagens como colaboradores em uma empresa e o jogo como o conjunto das atividades que realizam, fica intuitivo pensar que pessoas imaturas, do ponto de vista individual, irão cooperar apenas quando identificarem que levarão uma vantagem pessoal.
Vamos a uma exemplo simples. Pensemos que um grupo de pessoas foram incumbidas de fazer a limpeza de um determinado local. No caso, pessoas imaturas e individualistas não pensariam em ajudar outras quando tivessem terminado sua parte da tarefa, ou caso não houvesse divisão, fariam corpo mole para trabalhar menos. Agora, modificando as regras do jogo, podemos colocar a regra de que o transporte irá buscá-las somente quando o trabalho todo estiver completo. Agora, os imaturos que querem ir embora logo tem todo interesse em ajudar outras pessoas para que tudo acabe logo. Se na regra acrescentamos parâmetros de qualidade, os imaturos passarão a vigiar a qualidade pois sabem que caso o trabalho seja reprovado, terão que retornar e fazer de novo. Assim, fazer bem feito passa a ser um parâmetro importante para o benefício pessoal de ir embora o mais rápido possível.
Então, ficou claro como alterar regras dos nossos jogos organizacionais para envolver aqueles imaturos nos processos coletivos? Você pode estar pensando que seja uma estratégia manipuladora. Sem dúvida que é, e ainda produz resultados colaterais muito interessantes. O que se observa na prática é que ao interagir pelo bem comum, conversar mais com outras pessoas mais maduras, as pessoas imaturas passam a experimentar sensações de recompensa por terem ajudado, por terem feito algo em prol do coletivo. Isto desperta o sistema empático das pessoas e ajuda tremendamente a desenvolver a maturidade pessoal.
Os fins justificam os meios? Desta vez de uma forma positiva e benéfica para todos.
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Gostei muito deste texto, Lannes! Sua explicação de ética foi muito boa. Muitos ainda veem ética como algo abstrato, porém são nos comportamentos do dia a dia que a pessoa apresenta se está sendo ou não ético, além do que mostra o seu caráter. Cito alguns por exemplo: falar do colega pelas costas, fazer julgamentos e fofocas, invadir a privacidade alheia, querer levar vantagem etc. Então problemas éticos e junto com a falta de maturidade são questões que fazem algumas organizações serem tóxicas, perderem a credibilidade e adoecer as pessoas.
Isto mesmo Maricelia, sem prática não há ética. Grato pelo seu comentário.
Grande abraço,
Lannes