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Desafio 2- Fazer parte
O ser humano é por natureza um ser tribal. Além disto, temos um elemento na cultura que compartilhamos no Brasil que é importante ser destacado. Trata-se de uma das dimensões que Gerd Hofstede, pesquisador holandês que tem um dos melhores modelos para o estudo e compreensão das diferenças culturais entre países. É a dimensão do Individualismo-coletivismo. Ela mede o quanto as pessoas daquela cultura tendem a ser voltadas ao individualismo ou ao coletivismo. Cabe antes aclarar o significado destes termos. Individualismo quer dizer o quanto que as pessoas de uma dada cultura estão mais conectadas em sua responsabilidade pessoal pelo coletivo. Pessoas de culturas individualistas tendem a não ter a vergonha que as de culturas coletivistas têm de se expor perante o grupo, como fazer apresentações em público, dar uma opinião em um grande evento, etc. Elas mal sabem o significado que damos para “pagar um mico” frente a outras pessoas. Para elas, a autoexpressão é algo tão natural que não se importam com a forma como os outros interpretam ou reagem às suas falas ou ações.
Já culturas coletivistas, como a nossa, valorizam tremendamente a opinião do grupo, e muitas vezes abafam um posicionamento particular para seguir com a opinião da maioria, como se fosse a dele. Parece que ao discordar ou se destacar do grupo, perdesse o sentimento de pertencimento. Um exemplo típico é o que encontramos em toda lanchonete do McDonalds: um quadro com o funcionário do mês. Em culturas individualistas, o sentido deste quadro é o de valorização do esforço individual de uma pessoa, ao mesmo tempo em que mostra para os demais algo muito singular na cultura norteamericana: “se ele fez, você também pode”. Hoje, no Brasil, já nos acostumamos com estes quadros, mas longe de ser confortável para quem ostenta a foto durante uma semana ou um mês. É muito comum ouvir do dono da foto “não vejo a hora de acabar”. Também são comuns os comentários do tipo “tá vendo, puxa saco do chefe é destaque do mês”. Quando a foto é de uma funcionária, pode aparecer um comentário mais forte como: “Será que deu para o chefe para sair na foto?”. Estas frases demonstram claramente como é desconfortável ter um membro em destaque. Este movimento, através destas frases, procura trazer as pessoas de volta ao grupo.
Bem, creio que estes conceitos, por ora, sejam suficientes para compreender como o sentimento de pertencimento é tão importante para nossa cultura. Não é para outras? Em absoluto. Todas as culturas possuem o sentimento de pertencimento muito forte ao país, à um time de futebol, à empresa onde trabalham, etc, mas sem o elemento extra do coletivismo associado.
Fazer parte da empresa, do time de trabalho, é extremamente saudável para qualquer participante. Para haver um trabalho em equipe efetivo e saudável é essencial que os participantes queiram – de verdade – fazer parte daquele processo, daquele grupo. O pertencimento é uma das necessidades básicas do ser humano. Quando está atendida, a vida torna-se melhor, mais leve, mais saborosa e os aspectos negativos são melhor tolerados; quando não há possibilidade de mudança, ou transformados, quando existe condições e energia para tal.
Um exemplo muito nítido e tocante é o efeito que algumas músicas possuem de trazer à tona este sentimento de “fazer parte”, de pertencer. É o caso dos hinos nacionais. Quero trazer um hino como exemplo, mas não é um hino nacional, mas uma música que se tornou o hino da resistência italiana contra o fascismo de Benito Mussolini e das tropas nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Bella Ciao voltou a ser tocada após ter sido utilizada como música tema na série “La Casa de Papel”. O link que coloquei é de uma manifestação espontânea em um trem do metro na Itália, quando uma senhora se levante e começa a cantar a música que possui um significado muito profundo para o povo italiano por simbolizar a união contra forças opressoras. A força desta canção e sua simbologia são muito poderosas e muitos italianos que lutaram contra o nazismo e o fascismo morreram cantando esta canção. Veja no final da postagem a letra em italiano e a tradução.
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Até breve,
Luciano Lannes
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Bella Ciao
Una mattina mi son’ svegliato
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
Una mattina mi son’ svegliato
E ho trovato l’invasor
O partigiano, portami via
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
O partigiano, portami via
Ché mi sento di morir
E se io muoio da partigiano
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
E se io muoio da partigiano
Tu mi devi seppellir
E seppellire lassù in montagna
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
E seppellire lassù in montagna
Sotto l’ombra di un bel fior
Tutte le genti che passeranno
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
Tutte le genti che passeranno
Mi diranno: Che bel fior
E quest’ è il fiore del partigiano
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
E quest’è il fiore del partigiano
Morto per la libertà
E quest’è il fiore del partigiano
Morto per la libertà
Querida, Adeus
Uma manhã, eu acordei
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
Uma manhã, eu acordei
E encontrei um invasor
Oh, membro da Resistência, leve-me embora
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
Oh, membro da Resistência, leve-me embora
Porque sinto que vou morrer
E se eu morrer como um membro da Resistência
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
E se eu morrer como um membro da Resistência
Você deve me enterrar
E me enterre no alto das montanhas
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
E me enterre no alto das montanhas
Sob a sombra de uma bela flor
Todas as pessoas que passarem
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
Todas as pessoas que passarem
Me dirão: Que bela flor!
E essa será a flor da Resistência
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
E essa será a flor da Resistência
Daquele que morreu pela liberdade
E essa será a flor da Resistência
Daquele que morreu pela liberdade